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terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Ovo da Serpente – A possível origem da violência em nossa sociedade

Sempre que as conversas entre amigos convergem para a crescente violência urbana que estamos presenciando coloco que o grande responsável é a própria sociedade. Essa afirmação incendeia a conversa, com vários tipos de contestação.

As razões para esse meu entendimento vem da observação, lá pelo final dos anos 80, quando em Curitiba, nas escadas da Receita Federal, vários ambulantes vendiam cigarros contrabandeados. Ao comentar com o então Superintendente da Receita Federal essa estranha situação ele alegou que a “Receita Federal nada poderia fazer, pois a atribuição da fiscalização nesses casos cabia à Prefeitura e não à União e seus Órgãos”.

Apesar de esclarecido, fiquei abismado! Havia várias senhoras de idade que vendiam cigarros, com um temor nos olhos de que, há qualquer momento pudesse chegar o “rapa” da Prefeitura, elas buscavam completar os seus minguados orçamentos advindos da aposentadoria. A sociedade assistia aquilo de forma “compreensiva”, acreditando que era melhor essa pessoa estar obtendo dinheiro daquela maneira (que julgavam mais honesta do que estarem pedindo esmolas ou, até mesmo, roubando).

Dessa maneira essas pessoas humildes passaram para o campo da marginalidade. Sem perceber que estavam sendo “convenientemente treinadas” pela própria sociedade a fazer algo ilegal.

Minha pergunta: qual a diferença entre uma pessoa que vende cigarros contrabandeados de outra que vende drogas na porta da escola? Em minha opinião ambas estão cometendo uma transgressão. A diferença está no resultado do ganho. Sem dúvida aquela que vende drogas deve ter um “incremento” ao seu orçamento doméstico muito maior.

Minha análise, portanto, é de que o povo brasileiro que sempre foi honesto e trabalhador passou a ter algumas “oportunidades” crescentes quando passava a ser, ao menos um pouquinho, desonesto. E onde ele foi buscar a autorização para cometer seus pequenos delitos? Na própria sociedade que – em vez de exigir dos governantes maior ação na proteção dos menos favorecidos – permitia que parte dos tributos sonegados permanecesse com os ambulantes, “já que a carga tributária era muito alta” para que os pequenos comerciantes pudessem se inscrever de forma regular perante a sociedade.

Foram muitos os governos, especialmente municipais, que fizeram suas campanhas baseadas “na vista grossa” sobre os comerciantes ilegais. A sociedade a tudo assistia e achava, até, uma forma de “garantir sustento dessas pessoas sem por a mão no bolso”. Hipocrisia pura!

Também nos anos 80 foi que presenciamos o crescimento do crime organizado (aliás, desorganizado apenas a nossa política e nossos governantes. O crime sempre agiu de modo ordenado, apenas quando disputaram, entre si, as lideranças, em cada “boca de fumo” ou ponto de venda de armas. foi que a sociedade se assustou). Mais hipocrisia!

A rede Globo instigou os movimentos – especialmente na cidade do Rio de Janeiro – denominados de “arrastão” para combater a liderança dos governantes que não gozavam de sua simpatia, ou a combatia. E a sociedade assistia a tudo aquilo com a imagem de que as notícias da televisão sempre eram “verdadeiras” e não cabia, a ninguém, delas duvidar... povo ignorante. Ignorante e Arrogante! Jogava para “baixo do tapete” todas as suas falhas de “cidadão”.

Ainda nos anos 80 vimos as mudanças no Brasil e no mundo, como situações naturais e normais; não precisávamos fazer absolutamente nada. Tudo era resolvido pelas “autoridades constituídas”, tanto no Brasil como no mundo...

Vimos a queda do muro; a extinção das repúblicas socialistas soviéticas; a constituinte e a tal da "Constituição Cidadã” que nos traz vários problemas para o desenvolvimento e consolidação da sociedade.

Estamos em mais um período pré-eleitoral. Novamente estamos observando discursos idênticos aos que já ouvimos há bastante tempo... nada de novo! Nenhuma das promessas de campanha foi (ou puderam) ser cumpridas e/ou atendidas. E continuamos a acreditar, até por comodidade, que este ou aquele candidato irá ser o “salvador da pátria” desta vez. Ingenuidade ou, novamente, hipocrisia? Ou será coisa pior? Será que a nossa ignorância está além de todos os limites?

Acostumamos-nos a ouvir que a Democracia é a melhor forma de Governo. De fato é! Já que as demais formas são extremamente centralizadoras e lideradas, normalmente, por pessoas tiranas.

Uma reflexão. Será que os tiranos existem somente nos modelos ditatoriais de governo? Ou também podem ser eleitos, democraticamente, pelo voto popular? É de se buscar o real significado da palavra Tirania, para identificarmos mais claramente o perigo que é a suposição de que num sistema de voto popular podemos ter democracia. Exercitar a democracia, pelo voto, não é termos um regime democrático. E não é apenas no Brasil que isso acontece!

Fiquem com as reflexões...