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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Cidadania

Que a Ética e a Cidadania, assim como a flor do Lótus,
floresçam do lodo que nos está sendo apresentado

O Brasil tem jeito...

Temos acompanhado, desde a década passada, a quantidade de investigações realizadas pelos integrantes dos Ministérios Públicos, Federal e Estaduais, que resultam em processos formais a serem analisados e julgados pela Justiça! Trabalho sem igual no Brasil e em grande parte do mundo!

As operações denominadas Mensalão e Lava Jato são modelos que estão sendo adotados por outros países, inclusive!

Com todo esse vigor é de se esperar que haja, daqui há bem pouco tempo, uma sensível melhoria em toda a sociedade e com grandes reflexos na condução da política nacional. Certo?
Infelizmente, nem tanto...

Ainda somos – em grande maioria – um povo que é crítico severo dos crimes, impunidades, etc. quando praticados por terceiros. Por incrível que possa parecer, adora conhecer os novos escândalos que surgem... Até por que ele já se esqueceu do anterior...

A grande maioria de nós não tem memória; sequer uma vaga lembrança... Acredito que a memória deva funcionar como mero espelho; lembramo-nos apenas enquanto as imagens estão sendo vistas nas manchetes dos jornais e é assunto de rodinhas de fofocas...

Falta cidadania! Ou, como disse, com outras palavras, um jornalista de Curitiba: “Não existe Cidadão Cívico no Brasil. O que temos é Cidadão Cínico, que sabe das falhas e faltas dos outros e as condena exigindo cadeia e outras penas. Só que ele continua a cometer toda sorte de irregularidades, quando lhe é necessário ou aparece alguma oportunidade.”

Entendo que a cidadania predominante é aquela que se identifica na grande maioria das pessoas, quer sejam pessoas comuns ou autoridades. É essa predominância para o descaso e falta de caráter que devemos começar a repensar, reprimir e mudar. Mudar para atitudes éticas de qualidade (o comportamento padrão também forma princípios éticos; ainda que indesejáveis).

Até por conta de legislação criada pelo Estado, houve um aumento significativo de práticas informais (e ilegais em muitos casos) que ajudaram vários governos. Agora há uma manifestação que julga ter ultrapassado o limite do bom senso e – por isso – desejam que essa informalidade cesse. Veja o artigo Informalidadecrescente prejudica a economia, onde são apresentadas – além da sua origem – as razões para que voltemos ao Estado formal.

Há que se considerar, entretanto, a forma de pensar da grande maioria de brasileiros, ao constatar, quase que diariamente, novos crimes que são cometidos por pessoas “poderosas”, que deveriam servir de exemplo.

É preciso uma profunda reflexão de cada um de nós para que possamos dar início a uma nova condição de cidadania.


Você está disposto a começar?

sábado, 4 de junho de 2016

O estupro do brasileiro


Nesta semana, por conta de várias notícias de casos de estupro ocorridos em cidades brasileiras o tema integrou a mente de muitas pessoas. Pudemos ver, ler e assistir várias matérias em função até do posicionamento dúbio do delegado que iniciou o atendimento à menor do Rio de Janeiro.

Claro que a “oportunidade” foi fértil para surgimento de feministas, manifestações públicas, ações do congresso nacional criando novas leis, pesquisadores e analistas, apoiados por profissionais da área de comportamento humano, buscando encontrar a melhor frase, o melhor substantivo, o melhor adjetivo, etc., que causasse maior impacto popular...

De acordo como essas notícias descobri, por exemplo, que o Brasil tem a “cultura do estupro”; seja lá o que isso possa significar... Será que somos educados, mesmo antes de nascermos, a sermos estupradores e/ou estuprados?

De acordo com essas novas definições, inclusive jurídicas, sobre o significado da palavra “estupro”, pude compreender que estupro é o ato entre duas pessoas no qual uma delas não esteja de acordo em praticá-la. Mesmo assim o estuprador força o ato...

Todas as pessoas com quem convivo trabalham e trabalham bastante... Sempre buscam fazer novos trabalhos para conseguir melhorar sua renda, que se tona minguada depois de deduzidos todos os tributos que incidem em qualquer rendimento. Por mais que reclamem e julguem que a parcela que lhes é tomada é injusta e muito maior do que deveria (e poderia) ser, sem terem qualquer retorno efetivo, são obrigados a pagarem o que lhes é exigido; sob pena de ameaça a integridade e à vida. É um abuso praticado constantemente pelo Estado...

Meu Deus!!! Se essa definição valer o brasileiro vem sendo estuprado há muitos anos... a quem ele pode pedir ajuda?

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Uma questão de Mindset?

Achei interessante o relato de Mentor Neto... No fundo trata daquilo que somos ou queremos ser...

Tudo uma questão de nascer com ambição e perseguir seu sonho ou, como se diz: "fazer seu destino".

Quem sabe essa é uma das razões pela qual há o dito bíblico de que àquele que tem mais lhe será dado e, àquele que nada tem tudo lhe será tirado...

Veja que não se trata de ter-se ou não caráter; ser ou não ser honesto... Creio que essas características ficam num outro nível... O que se fala, aqui, é de sonhos modestos, ainda que nem sempre alcançados pelo Pai de Mentor Neto, contraposição ao possível sucesso de seu tio...

Veja o texto:
Meu avô deve ter sido um cara bem rico.
Imagino.
Teve algumas revendas Chevrolet e viveu uma vida bem confortável.
Teve cavalos, uma casa com cinema e tudo.
Até um veleiro no Yatch Club de Santos.
Quarenta pés. 
O Sagres V.
Era um sujeito áspero, autoritário.
Meu pai começou a trabalhar com ele. 
E como lhe foi imposto começar por baixo, começou na oficina de uma das revendas.
Não deu certo, óbvio.
Veja, meu pai sempre foi um cara bom, então ao ver como meu avô tratava os outros mecânicos e depois de muitos conflitos familiares, resolveu trabalhar em outros lugares.
Desde que me entendo por gente até se aposentar, ele foi Consultor Técnico. Consultor Técnico é um nome pomposo para o recepcionista de uma revenda de veículos. 
Basicamente, o sujeito que recebe seu carro para uma revisão.
Aos poucos, aceitou que sua condição financeira não permitia muitos sonhos. 
Nem todo mundo nasce com o chip da ambição, enfim.
Restou-lhe apenas um sonho.
Mais para frente eu conto qual era.
Então estamos em 1963, quando se casou com minha mãe (a D. Nilza, tão íntima dos que leem minhas bobaginhas há mais tempo).
D. Nilza, diferente do meu pai, sempre correu atrás do que queria. Foi secretária na Caixa Econômica por dezoito longos anos.
Até eu completar 11 anos, portanto, essa era minha peculiar situação: morava com meus pais, árduos trabalhadores no apartamento elegante de Higienópolis do meu avô quase-rico.
De um lado meu avô, abastado. 
De outro, meus pais batalhadores. 
Para mim, de um lado, o dinheiro contado, de outro, os finais de semana dormindo no Sagres V.
O veleiro fazia tão parte da família, que meu tio George, irmão do meu pai, virou fuzileiro naval.
Enquanto isso, meu pai, mesmo tentado pelo veleiro, preferiu construir um barquinho de madeira para remar na Guarapiranga.
O fato que importa é que meu pai sempre foi um sujeito de extremo caráter e não aceitaria, jamais, algum favor do meu avô - além do teto para sua mulher e filho.
Tanto caráter que até hoje quando corto a barba ou a deixo crescer, lembro dele dizendo:- Homem tem que ter uma cara só. Se for deixar a barba, tem que ser para a vida toda.
Minha vida está repleta desses axiomas do meu pai.
Truismos sempre bem intencionados, mas que inúmeras vezes me fizeram colidir de frente com ele.
Difícil para uma criança entender o contraste das duas figuras paternas habitando o mesmo teto.
Essa catraia do meu pai, o Rachacuca, era um barquinho de dois lugares, a remo.
Seu sonho - voltamos a ele - era comprar um motor de popa.
Depois de anos juntando dinheiro, o dia chegou.
Ele e eu fomos à Sears, onde hoje é o Shopping West Plaza.
O motor era mínimo. 
Três cavalos e meio.
Foi a primeira vez que vi meu pai chorar. 
Acho que foi a primeira vez que vi um adulto chorar, para dizer a verdade.
O motor tinha subido de preço.
Não foi ainda daquela vez.
A vida seguiu.
Eventualmente meus pais conseguiram comprar um apartamento e meu pai seu tão sonhado motor de popa.
E hoje estou eu aqui contando essa história simples, prosaica, quase insignificante.
Por que?
Vou tentar explicar, já que você se deu ao trabalho de ler até aqui.
Conto isso tudo, essas intimidades, porque é a história da gente que define o nosso compasso moral.
Tenho certeza que você, que está lendo este texto, tem as suas razões e sua história para ser ético e acreditar no que acredita.
Minha história e minhas razões são essas que contei aqui.
Por isso me faz um mal viceral, ver o mau-caratismo imenso de nossos políticos, ver tudo que nos falta de recursos por culpa exclusivamente desses pulhas. Dói no fígado ver tudo o que sobra em apartamentos triplex, carros importados, viagens, tudo conseguido com dinheiro roubado. Quando leio o jornal e sinto vergonha de ser brasileiro, só consigo lembrar das lágrimas do meu pai por não conseguir comprar aquele maldito motor de popa, mesmo tendo um veleiro de quarenta pés ancorado no Yatch Clube de Santos.
Queria tanto poder expurgar toda essa gente da minha vida.
Só isso.
Texto de Mentor Neto