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domingo, 25 de outubro de 2009

Passa Nuvem Negra... passa...

"Não adianta me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada"
Já faz tempo que essa notícia é parte de nosso cotidiano. Na esperança de ver surgir a "Paz num milagre ou num passe de mágica" imobiliza (até de forma conveniente) todas as pessoas, que preferem esperar das "autoridades constituídas" as ações necessárias.
Não tive de ir muito longe... bastou uma breve busca com o Google para localizar notícias semelhantes as que hoje ocupam as manchetes dos jornais e os principais blocos nos noticiários apresentados na rádio ou na tv. Nada muda. Tudo é igual.
Irritantemente igual. As pessoas, ao menos a maioria que faz parte da assistência passiva dos fatos de violência, insistentemente repetidos, já faz comentário de indignação apenas "para fazer pose frente às câmaras".
"Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô"
A repetição faz com que as pessoas se tornem insensíveis. 
De forma cínica, poderemos afirmar que:
Tudo é normal, breve e passageiro. Que bom que temos a liberdade da democracia que nos permite escolher o candidato que fará as mudanças que esperamos, etc. e tal...
"Não vou sair
Se ligarem não estou
À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar"
Nesta semana as manchetes tentam avaliar as consequências da nova onda de violência com os breves momentos de jogos em 2014 e 2016, onde haverá a paz à custa de negociação entre Estado e o Crime. Ao menos um dos dois é organizado...
"Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tu ...do"
Faça a leitura e, ao menos, uma breve reflexão...
7 de janeiro de 1981  Revista Veja.07/janeiro/1981
O Rio ferido a bala
A Baixada Fluminense fechou 1980 com 2.000 execuções e a zona sul do Rio torna-se, aos poucos, o quintal do crime numa cidade despoliciada
Há pelo menos uma coisa em comum entre o jornalista João Saldanha, antigo militante do Partido Comunista Brasileiro, e o general Antônio Carlos Muricy, estrela da linha dura militar até vestir o pijama. É a mesma que liga outras duplas de cariocas, por nascimento ou adoção, igualmente díspares - como o escritor Fernando Sabino e a novelista Janet Clair, ou o banqueiro Frank Sá e o ator Hugo Carvana. Todos são exemplos acabados de que um recente flagelo do Rio de Janeiro - os assaltos à mão armada - fez vítimas famosas em número suficiente para formar uma singular categoria de colunáveis do crime.
... CARTEIRA FALSA - Segundo o levantamento do Gallup, 36% dos entrevistados cariocas sofreram pelo menos um assalto em 1980, e 1 milhão de moradores do Rio, nos últimos dois anos, viram seu patrimônio parcialmente mutilado por homens armados. Dessa multidão de vítimas, 400.000 foram assaltadas mais de uma vez em 1980. E 700.000 cariocas preferiram não apresentar queixa à polícia. Alguns, porque o produto do roubo não justificava várias horas perdidas com a burocracia policial. A maioria, por estar convencida de que a polícia do Rio de Janeiro é irremediavelmente ineficaz, também por padecer há muitos anos da doença da corrupção.
... A perda da noção de segurança pessoal - sentimento indispensável para a vida tranquila nos centros urbanos - mudou os cariocas. Prosperam as empresas que vendem portas de aço com fechaduras adicionais - a Blind House viu crescer em 50% seu faturamento nos últimos três meses. Brotam ruas com acessos fortificados, como a Iposeira, em São Conrado, que convida os forasteiros a estacarem na guarita, ou a Osório Duque Estrada, na Gávea, que na sua parte superior dá passagem a uma colina de mansões entre as quais está a do banqueiro Marcos Magalhães Pinto. E, naturalmente, multiplicam-se as polícias particulares.
... Os terrores dos cariocas não levaram o comando da Polícia Militar do Rio a efetivamente espalhar pelas ruas os 30.000 policiais encarregados de proteger a população, como ordenou inutilmente o ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. Mas popularizaram nos corredores das polícias civil e militar o argumento de que não há tantas razões para o medo - afinal, lembram os delegados, o trânsito, que fez mais de 1.500 cadáveres em 1980, matou mais que os assaltantes. O argumento é néscio. Ao agarrar um volante, um homem faz da máquina o prolongamento de seu corpo e corre um risco calculado: se não controlar a máquina, poderá ser vítima dela ou de outras. Esse mesmo homem não sai de casa e caminha pelas ruas pilotando dois revólveres.
... A marca do horror
Com os massacres do Natal, a Baixada Fluminense disparou nas estatísticas da violência
A quatro dias do Ano Novo, a Baixada Fluminense finalmente ultrapassa a marca dos 2.000 cadáveres em doze meses - uma sinistra barreira que há tempos parecia desafiar a multidão de assassinos diluída em seus 2,3 milhões de habitantes. A proeza foi emoldurada por requintes no melhor estilo da região, que mereceu da Organização das Nações Unidas o título de "a mais violenta do mundo".
...
"Passa nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém"

Até quando? Até quando a chamada sociedade civil irá ficar inerte diante de sua responsabilidade?
Afinal, tudo que vem acontecendo conta com sua ativa participação, mesmo que com sua estrondosa omissão. Omissão que pode ser por medo. Tudo bem. Ninguém quer morrer ou ver seus familiares sofrendo de uma violência sem o menor sentido.
Esses são claros em suas ações. Declaram abertamente (ainda que ocultos por mecanismos para garantir sua identidade) o medo que sentem da retaliação que paira sobre cada um que descumprir a "Lei do Crime Organizado"...
"Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar"
Que todos façam uma mínima coisa que seja; um esforço ínfimo... Não vale ficarmos apenas indignados... Temos que ter alguma ação que deixe claro o que se busca... O que "é preciso pra nos levantar"...
Por isso finalizo com a música do Djavan, apresentada por ele, Gal e Chico e com a grande esperança de que, cada um de nós, com um mínimo de ação, além da indignação, superem quando somadas toda essa fase negra (Nuvem Negra...) que nos tem deixado cada vez mais apequenados.
Por isso, cuidem-se políticos e candidatos a cargos políticos... A força que será gerada a partir da soma da ação de cada um de nós afastará o Mal em definitivo. Mesmo que eles sejam realizados (por omissão ou ação) por pessoas com altos cargos públicos. Tremei todos os que agem para o mal ou praticam o mal ou, simplesmente, deixam que o mal persista...




Nuvem Negra

Djavan

Não adianta me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilha ... da
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou
À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tu ...do
Passa nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar
Me derrubou
nao sabe parar de crescer
e doer

Um comentário:

  1. Tudo é cíclico.

    Pena que muita gente não consiga perceber os vários ciclos concêntricos nos quais estamos todos inseridos. Como já disse Osho, "a história da humanidade é uma história entre guerras".
    A violência não é privilégio da pós-modernidade.
    Nem a imbecilidade. A barbárie talvez esteja em nosso DNA. O que entendemos por civilização é um verniz ralinho colocado nos últimos segundos da história que cobre nosso cérebro reptílico. Afinal, o que são 8.000 anos diante da história desse mundo?

    Ainda lutamos por domínio de território e pela sobrevivência ( e supremacia) do mais forte e mais ágil.

    Todas as atividades empresariais ilícitas são muito organizadas e desburocratizadas.
    É evidente que o Direito são apêndices do ilícito.
    Por que os políticos que estão tendo um lucro extraordinário com esse cenário apocalíptico vão deixar de ganhar? O que significa segurança diante do lucro?
    Os filmes "O senhor das armas" e "Traffic" mostram de maneira cristalina que essa "guerra" é de mentirinha. Que os senhores do capital não querem combater nada.

    Excelente sua pesquisa nas páginas da mídia de quase 30 anos atrás. Nosso cérebro tem um certo vício ao esquecimento.

    Saudade da voz transparente da Gal. Linda música. Casa sob medida com o assunto. Uma trilha sonora poética diante do grotesco de uma realidade recorrente.

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