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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Contabilizando as perdas causadas pela dengue

Artigo divulgado pelo CRC-PR, trazendo um texto muito oportuno do Presidente Paulo Caetano. Por isso, estou reproduzindo-no na integra.

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Sugeriram ao prefeito César Maia, que não admitia estar ocorrendo uma epidemia de dengue no Rio, que saísse do seu gabinete com ar refrigerado, trocasse o terno por bermuda e regata e fosse a áreas da cidade onde nuvens de Aede egypti infestam quintais e casas. Ironizaram ainda que é vingança do presidente Lula: para mostrar a falta que fazem as verbas da CPMF.

São muitas as piadas, como ainda do lançamento de uma raquete eletrônica mata-mosquito, marca Guga... Que as pessoas se enxuguem bem depois do banho: o Aedes adora água parada em pneus...

O quadro de calamidade que a doença vem causando no Brasil, contudo, não tem nada de engraçado. É sim muito triste, trágico, alarmante, sinal de omissões e descasos, como tantos que diariamente ameaçam nossas vidas, criando medo, incerteza, insegurança...

Mais uma vez, o número de doentes e de mortos, pela dengue, volta a ser preocupante no País. Foram 481 mil os casos notificados nos nove primeiros meses do ano passado, congestionando os hospitais, e 121 as mortes confirmadas. Este ano, somente no estado do Rio, as notificações passam de 57 mil e as mortes de 66, com a capital - porta de entrada do turismo nacional - liderando a sombria estatística.

É verdade que, desde a sua identificação, há cerca de 200 anos, a dengue tem se manifestado de forma epidêmica e até endêmica, nalgumas regiões di planeta, como o sudeste da Ásia. Mas, diferentemente da época em que os sintomas da doença eram confundidos com manifestação de espíritos maus – é o que traduz a expressão swahili "ki dengu pepo", que deu origem ao termo dengue,- políticas públicas podem, se não erradicar o mal, mantê-lo inofensivo.

Nossa própria experiência, desde quando registramos as primeiras epidemias, no País, revela possibilidades de controle dela por meio de campanhas, programas de saúde, obras de saneamento, imediata reação diante do surgimento de focos. A morte recente de uma pessoa, por febre amarela no Paraná, também causada por mosquitos, só que silvestres, desencadeou estado de alerta dos órgãos de saúde e vacinação em massa da população. É por aí!

É evidente a relação de causalidade entre omissão governamental e a reincidência de epidemias. Dos anos 1920 a 1980, o vetor da dengue foi praticamente dominado, entre nós, voltando com ímpeto nos últimos anos, por evidente relaxo das ações diretas e indiretas de prevenção: interferências indevidas no meio ambiente, expansão desordenada das cidades, falta de infra-estrutura sanitária... É o que explica a cidade do Rio estar entre as mais perseguidas. A propósito, relatórios do Tribunal de Contas local mostram que a cidade deixou de gastar cerca de R$ 5,5 milhões de verbas, que deveriam ter sido utilizadas para esse fim em 2006.

No momento, médicos de outros estados e até as Forças Armadas estão a postos para conter a epidemia. Mas - não é segredo - o combate eficiente aos vetores da doença requer ação preventiva permanente, monitoramento, uso de todos os recursos para eliminar focos de larvas, intensificação de pesquisas para se obter vacina, mobilização das comunidades, campanhas de educação...

Combater doenças como essa é responsabilidade de todos, mas principalmente dos governos. “O Estado tem que ser profissionalizado". Esta frase da ministra Dilma Rousseff, dias atrás, ao visitar o Paraná, é uma confissão de reconhecimento do despreparo e, muitas vezes, falta de ética e sensibilidade reinante na gestão pública brasileira.

Contador Paulo César Caetano de Souza
Presidente

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